A parte visível dos dentes decíduos (dentes de leite) e dos dentes permanentes (dentes definitivos) é composta por várias camadas. A camada mais externa é conhecida por esmalte dentário, que é o mineral mais duro do corpo humano. O esmalte protege o interior do dente, onde se encontram as estruturas mais sensíveis e as terminações nervosas, protegendo, ainda, os nossos dentes das forças da mastigação e da oclusão.

Por inúmeras razões, o desenvolvimento do esmalte dentário de uma criança pode ser interrompido, conduzindo ao aparecimento de defeitos de esmalte, quer nos dentes decíduos quer nos dentes permanentes. Determinados tipos de defeitos de desenvolvimento do esmalte podem causar apenas preocupações a nível estético, enquanto outros podem levar a sensibilidade dentária ou ao aumento do risco de cárie dentária em crianças.

Quando é que o esmalte dentário é formado nas crianças?

O processo de formação do esmalte dentário em crianças é altamente complexo e ocorre em várias etapas. A formação do esmalte dentário, na dentição decídua, inicia-se no útero e continua na infância, ao passo que a formação do esmalte, na dentição definitiva, começa durante a infância e continua até por volta dos 7 ou 8 anos de idade (à exceção do esmalte dos dentes do siso, que se forma mais tarde).

O esmalte dentário é produzido por um tipo de células denominadas ameloblastos. No momento em que um dente erupciona os ameloblastos, responsáveis ​​pela produção do esmalte dentário, terminam a sua função e morrem. Isto significa que, quando o processo de formação do esmalte termina, termina para sempre. Ao contrário dos ossos, que podem cicatrizar após uma fratura, o esmalte dentário não se pode regenerar. 

Qual a causa dos defeitos de desenvolvimento do esmalte e como se manifestam?

Os defeitos de desenvolvimento do esmalte dentário nas crianças são causados ​​por danos nos ameloblastos durante as diferentes fases de formação do esmalte. Acredita-se que uma grande variedade de fatores hereditários e ambientais sejam possíveis fatores causais dessas perturbações.

Os fatores hereditários associados a defeitos de desenvolvimento do esmalte incluem a amelogénese imperfeita (distúrbio genético que afeta apenas o esmalte do dente), assim como vários distúrbios genéticos generalizados, de que podem ser exemplo o síndrome de Ellis-van Creveld, síndrome TDO e síndrome de Kindler.

Por sua vez, os fatores ambientais associados a defeitos de desenvolvimento do esmalte incluem deficiências nutricionais e/ou do metabolismo, défices de oxigenação, traumatismos, infecções virais e/ou bacterianas, estados inflamatórios e toma de determinados fármacos, prematuridade e/ou baixo peso à nascença, entre alguns outros crescentemente mencionados.

A natureza e a extensão do defeito de esmalte resultante dependem do estadio de formação do esmalte, da duração, período e intensidade durante o qual ocorreu o estímulo adverso. Nalguns casos os defeitos de esmalte aparecem apenas num único dente – quando o defeito foi causado por traumatismo num dente em desenvolvimento – enquanto noutros casos os defeitos afetam todos os dentes nos quais o esmalte se estava a desenvolver no momento da injúria aos ameloblastos.

Os defeitos de esmalte podem ser isolados ou generalizados e estar (ou não) associados a defeitos de dentina.

Os defeitos de esmalte em crianças geralmente assumem diferentes formas dependentes do do estadio de formação do esmalte durante o qual ocorreu o fator causal, sendo as mais frequentes as hipoplasias e as hipomineralizações, reflexo ao nível da “quantidade” e “qualidade” dos defeitos)

Os termos amelogénese imperfeita, fluorose dentária e dente de Turner referem-se a defeitos de esmalte que estão associados a causas específicas, nomeadamente genéticas, ingestão crítica de flúor (ação sistémica) e infecções de dentes decíduos com afetação do desenvolvimento do gérmen do dente permanente.

Como saber se o seu filho tem defeitos no esmalte dentário?

Um médico dentista, com especialidade em Odontopediatria, pode diagnosticar durante o exame da cavidade oral da criança estes defeitos de estrutura. O seu correto diagnóstico, idealmente em fase precoce, assume extrema importância, permitindo atuar preventiva e/ou curativamente de forma específica, conforme exigido nestes casos, diminuindo em muito a potencial sensibilidade dentária muitas vezes manifestada, condicionando não raramente o padrão mastigatório e o cumprimento da higiene oral, aumentando concomitantemente a suscetibilidade à cárie dentária.

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